Bastante consumida pelos indígenas no Brasil, a mandioca foi incorporada à alimentação dos africanos trazidos para as fazendas do Espírito Santo. Logo a mandioca virou um dos principais alimentos da população local.
A farinha de mandioca foi um dos principais produtos de exportação no Espírito Santo durante o século 19. Existiam muitas fazendas onde a mandioca era plantada e, depois, processada na casa de farinha, chamada de “quitungo”.
Era pelo rio Cricaré, também chamado de rio São Mateus, que a produção da farinha de mandioca escoava. Os quilombolas transportavam sacos de farinha em grandes canoas pelas águas desse rio, até chegarem ao porto de São Mateus, onde a produção era vendida.
Até hoje o cultivo da mandioca é bastante presente nas comunidades rurais negras do Espírito Santo, assim como mostra o documentário “Disque Quilombola”.
As mulheres torram a farinha em grandes tachos de ferro das casas de farinha, fazem beijus com amendoim, assam bolos de puba. Vez ou outra alguma menina crescida lembra as bonecas feitas de mandioca e algum menino esculpe máquinas voadoras nesse tubérculo.
As crianças participam ativamente desse processo. Fazem porque gostam, porque querem entender o processo e isso acontece estando junto, cortando, cevando, torrando. Pegam facas para descascar, rodeiam os adultos na hora de cevar, de secar e torrar como uma brincadeira de verdade. Um dia vai ser a vez deles de assumir essa produção e aí, todo processo já estará incorporado de tal forma que haverá espaço para o prazer da produção, porque ela criou raíz, vínculo, história.