De um lado da linha do telefone de lata conhecemos crianças da comunidade São Cristóvão em São Mateus, ao norte do Espírito Santo. Do outro lado vemos crianças que moram no Morro São Benedito na cidade de Vitória. Essas crianças não se conhecem, nunca se viram, porém, dá até para achar que elas são amigas de longa data.
Esse filme foca na criança e seus fazeres mais genuínos. Buscamos aproximar realidades através dos gestos do brincar e isso gera um encontro de realidades independente do local onde vivem.
As crianças de São Cristóvão construíram carrinhos de madeira com rodas feitas de chinelo de dedo. Quando essas imagens foram apresentadas para as crianças do Morro São Benedito, imediatamente eles disseram que também sabiam fazer carrinhos, porém, usando outros materiais. Fizeram uma conexão imediata através do brinquedo. Mesmo não conhecendo as técnicas do uso da madeira, as crianças sabem da necessidade e do desejo de construir e brincar de carrinhos. Conhecem o que mora por trás desses carrinhos, ou seja, sentem-se
representados por aqueles que sabem fazer e brincar com esses carrinhos.
Assim também aconteceu com as brincadeiras que as crianças do Morro São Benedito nos apresentaram.
A marimba, por exemplo, não é uma brincadeira conhecida em São Cristóvão.
Os meninos do morro amarram pedras em fios para guerrear em curtos lançamentos desses fios, e romper a linha do adversário conquistando a pedra. Uma relação direta com as buscas das pipas derrotadas em guerras aéreas.
As crianças de São Cristóvão por mais que não brincam de marimba entenderam de imediato o sentido e a necessidade de guerrear e conquistar pedras. Conversam entre si através da cultura que é própria da criança e que representa a infância seja de onde ela for.